Escola Municipal Dr. Wilson Romano Calil

Escola Municipal Dr. Wilson Romano Calil

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A galinha-d'angola


    Coitada
    Da galinha-
    D’angola
    Não anda
    Regulando
    Da bola
    Não para
    De comer
    A matraca
    E vive
    A reclamar
    Que está fraca:

    — “Tou fraca! Tou fraca!”
    Vinícius de Moraes

O Leão

    O LEÃO

    (Inspirado em William Blake)

    Leão! Leão! Leão!
    Rugindo como o trovão
    Deu um pulo, e era uma vez
    Um cabritinho montês.

    Leão! Leão! Leão!
    És o rei da criação

    Tua goela é uma fornalha
    Teu salto, uma labareda
    Tua garra, uma navalha
    Cortando a presa na queda.

    Leão longe, leão perto
    Nas areias do deserto.
    Leão alto, sobranceiro
    Junto do despenhadeiro.
    Leão na caça diurna
    Saindo a correr da furna.
    Leão! Leão! Leão!
    Foi Deus que te fez ou não?

    O salto do tigre é rápido
    Como o raio; mas não há
    Tigre no mundo que escape
    Do salto que o Leão dá.
    Não conheço quem defronte
    O feroz rinoceronte.
    Pois bem, se ele vê o Leão
    Foge como um furacão.

    Leão se esgueirando, à espera
    Da passagem de outra fera...
    Vem o tigre; como um dardo
    Cai-lhe em cima o leopardo
    E enquanto brigam, tranquilo
    O leão fica olhando aquilo.
    Quando se cansam, o leão
    Mata um com cada mão.

    Leão! Leão! Leão!
    És o rei da criação!

      Vinícius de Moraes


terça-feira, 12 de agosto de 2014

A ARCA DE NOÉ


Rio de Janeiro , 1970

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da Arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca

Noé, o inventor da uva
E que, por justo e temente
Jeová, clementemente
Salvou da praga da chuva.

Tão verde se alteia a serra
Pelas planuras vizinhas
Que diz Noé: "Boa terra
Para plantar minhas vinhas!"

E sai levando a família
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha
Brilha o arco da aliança.

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.

E logo após, no buraco
De uma janela, aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.

Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótão
Duas girafas amigas
De fora as cabeças botam.

Grita uma arara, e se escuta
De dentro um miado e um zurro
Late um cachorro em disputa
Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Vai! Não vai! Quem vai primeiro?
As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro
Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saída
Lutam os bichos de pêlo
Pela terra prometida.

"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre - "Não!"

Afinal, e não sem custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé
Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista não avista.

Na serra o arco-íris se esvai...
E... desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Na terra, e os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos
É doce ouvir na calada
A fala mansa dos bichos
Na terra repovoada.
Vinícius de Moraes